terça-feira, 26 de julho de 2011

Rodeios - Ecos do passado



Há tradições que marcam profundamente a alma de uma aldeia.


Em tempos idos, quando a aldeia fervilhava de gente, eram desenvolvidas várias actividades agro-pastoris, nomeadamente a cultura de cereais.


Algum milho e trigo, mas sobretudo o centeio, era cultivado nas várias encostas de solos magros e agrestes, ondulando ao sabor da brisa. Após a ceifa, os rolheiros eram transportados para as diversas eiras existentes nas lombas que circundam a aldeia e malhados por homens com manguais, dado a ausência de máquinas para o efeito.


Em dois moinhos na Ocresa, transformava-se o cereal em farinha para alimentação do corpo e espírito das gentes de Rodeios e Vale do Homem. Através de intrincados carreiros em zigue-zague ao longo das vertentes da Breda e Conheiras, chegava-se ao moinho do Poejo, situado junto á foz do ribeiro do Caldeirão ou ao das Meias, um pouco mais a montante.


Hoje, deles, apenas restam vestígios, a estrutura foi destruída pelas águas revoltosas nos Invernos rigorosos, quando a Ocresa, com o seu aspecto arrogante inundava as margens até ás açudades das oliveiras.


As gentes dessa época, amanharam as pequenas courelas à procura do pão, e assim, foram capaz de afeiçoar a terra à sua maneira natural de viver. Hoje, observa-se um verde mar de pinhos e eucaliptos que balançam sacudidos pela brisa do fim da tarde, teimando-se aqui e além em manter algumas culturas tradicionais. Com a florestação maciça, o abandono de actividades agrícolas, a pouca população envelhecida, fez com que a aldeia perdesse vida, encontrando-se em adiantado estado de desertificação.


Pena foi, não ter sido incluída no programa das aldeias de xisto, porquanto as intervencionadas têm vida e foram recuperadas e enquadradas com equilíbrio entre a construção e a paisagem.


No entanto, estamos convictos que a associação, à semelhança de outras localidades, poderá ser elemento catalisador na promoção e revitalização da aldeia. O referencial das tradições e saberes, são elementos essenciais nessa dinâmica.


Esperamos que assim seja.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Carvalhal - Museu Etnográfico




Este museu surgiu, por um lado, pelo desejo e empenho de dois amigos do Carvalhal, Vasco Gaspar e Joaquim Ribeiro, por reconhecerem a necessidade de abordar tradições e de alguma forma, efectuar uma viagem ás origens e ecos do passado.


Reconhecendo também, a necessidade de perservar e divulgar a cultura popular da aldeia.


Todo o seu acervo, que se encontrava disperso, foi recolhido e oferecido por grande parte dos habitantes e está dividido em quatro alas.


Numa delas, está representada uma cozinha beirã, onde se pode observar todos os utensílios necessários e frequentemente utilizados. Em anexo, na ala do linho, podemos ver todo o percurso necessário ao amanho do linho, desde a sementeira á saída da peça urdida no tear. Toda a componente exposta, faz-nos imaginar a vivência das gerações passadas que desbravaram montes e vales de solos magros e agrestes.


Passando a outra ala, de maior dimensão, aí estão representações de actividades em desuso expostas em vários núcleos, como o pão; sapateiro; barbeiro; carpinteiro, bem como diversas ferramentas ligadas ao amanho da terra, nomeadamente: cangas, arados, charruas, manguais e muitas outras que foram utilizadas na actividade agro-pastoricia.


Por fim, podemos observar o núcleo do ferreiro, uma forja com fole e toda a gama de ferramentas necessárias a esta profissão.


Em todas as actividades implementadas, está presente a ligação á comunidade da aldeia e, embora sendo um museu de expressão local, cedo se revelou um pólo de atracção mais alargado.


Foi na constituição da associação, complementada pelo museu e sepulturas rupestres, que de algum modo se pretendeu revitalizar a aldeia.